terça-feira, 6 de junho de 2023

VISITA DE ESTUDO

MUSEU DE BILROS, ALFÂNDEGA  RÉGIA, NAU QUINHENTISTA 

VILA DO CONDE


Hoje, 26/05/2023, os Associados do IAESM têm encontro marcado junto ao Templo do Senhor da Cruz, às 14 horas. 
Daí partiremos num autocarro de 55 lugares para uma visita guiada ao Museu das Rendas de Bilros, à Alfândega Régia e à Nau Quinhentista, marcada para as 15:00 horas, em Vila do Conde.
Houve quem não cumprisse pontualmente o horário e o autocarro partiu ligeiramente atrasado, condicionando o início das visitas que, adicionado à chuva com que S. Pedro nos saudou à chegada, nos subtraiu uma parte importante do que estava programado: não foi cumprida a visita à Nau Quinhentista. Chovia torrencialmente quando o autocarro parou para deixar a metade do grupo (27 pessoas) que começou pela Alfândega Régia, a qual incluía a Nau, encharcada. Seria perigoso fazer a visita nessas condições. Quando veio a outra metade do grupo já estava seca, mas não havia tempo.
 Na Alfândega Régia

Ficaram, com disse, 27 pessoas na Alfândega e as restantes 28, nas quais me incluí, seguimos para o Museu das Rendas de Bilros.

A maior renda do mundo

Depois de deixarmos o autocarro caminhámos ainda algumas dezenas de metros, até que na rua de S. Bento, nº 70, um solar do século XVIII abriu para nós uma bonita coleção de belos exemplares (antigos e atuais) dessa belíssima e secular arte de dedilhar os bilros. Entre os quais um véu de noiva no qual trabalharam sete rendilheiras durante seis meses; e, a forrar uma espécie de túnel, em vidro ou acrílico (não verifiquei), em forma de paralelepípedo, a maior renda do mundo. Essa, dos nossos dias. De 2018 (se a memória não me atraiçoa) constituída por 437 quadrados coloridos, com motivos diversos (marítimos e outros), confecionada por cerca de cem rendilheiras durante um ano. 
Inscritos nas paredes do edifício há vários painéis que contam a história dessa arte rendilheira secular na cidade, seus momentos de expansão e de retraimento, sua importância na economia familiar e da cidade… 
Enfim,  falam da importância que essa arte vem tendo, com altos e baixos, nesta cidade portuária, desde a era quinhentista.
Não se conhece a sua origem, mas sendo Vila do Conde uma terra de marinheiros, mercadores e construtores navais (dado o grande movimento de chegadas e partidas de barcos especialmente provenientes do norte da Europa, na era de quinhentos), pensa-se que terá sido trazida por mercadores e marinheiros, da região da Flandres, nessa época. 
Porém, seja qual for o lugar de onde chegou, enraizou-se aqui e foi importante na economia das famílias. E é muito bonita. É fascinante ver a agilidade com que as rendilheiras dedilham os bilros, mudam os alfinetes no pontilhado, cruzam as linhas e vão tecendo a renda sobre a almofada; e criam assim peças lindíssimas. Claro que começam muito novinhas, o que ajuda. 
Uma com quem conversei, contou-me que sendo a filha mais nova de dez irmãos, a escola de rendilheiras funcionou para si como um ATL: de manhã ia para a escola e, de tarde, as irmãs iam pô-la nas rendilheiras.
O Museu das Rendas de Bilros foi instalado neste edifício do século XVII, em 1991. Além dos bonitos exemplares desta arte de rendilhar, expõe também todos os materiais e utensílios usados na sua execução. 
Na sala/escola tem uma coleção de almofadas de escolas estrangeira com as quais se relaciona.
Uma almofada com os bilros e o trabalho que a rendilheira tem em mãos

Em Portugal há outro polo de renda de bilros, em Peniche, o que reforça a ideia de ter sido uma arte trazida por marinheiro e mercadores.
Terminamos a nossa visita aqui. É a nossa vez de visitarmos a Alfândega Régia e, a outra metade do grupo, o Museu. Eles chegam e nós partimos para lá.
Caminhando algumas dezenas de metros, ao desembocar na Praça da Alfândega, uma imagem me cativa olhar:  uma réplica de uma nau quinhentista (aí fundeada desde 2007) borda o céu azul com os seus mastros despidos de velas; e lá está o cesto da gávea, a meio da metade superior do mastro do centro, para onde eram enviados os marinheiros que se portavam mal ou quando se queria verificar se havia terra à vista. 
Logo ali ao lado, a Alfândega Régia, criada por carta régia de D. João II em 24 de Fevereiro de 1487, visto o porto de Vila do Conde ter grande movimento de entrada e saída de barcos carregados de mercadorias que, por não haver quaisquer oficiais alfandegários para os cobrar, não pagavam os impostos reais, abre-nos a portas. E tivemos aí uma teórica e longa lição história, por uma guia fluente no assunto, que procurava imprimir alguma graça à narrativa com alguns apartes; mas não deixou de ser uma longa lição teórica sobre a vida a bordo de uma nau de quinhentos: a miséria, a dor e o sofrimento da tripulação. 
Faltou-lhe o complemento mais prático. 
Faltou-lhe a visita à nau, onde são visíveis os compartimentos dedicados a cada a ação, o que daria outra força às palavras. 
A criação da Alfândega Real de Vila do Conde deu origem a alguma fricção com as freiras do Mosteiro de Santa Clara que, possuidoras de uma Alfândega Senhorial, reclamavam os direitos sobre as mercadorias entradas pela barra do Ave. Só alguns anos mais tarde D. João III consegue resolver a questão, atribuindo uma renda anual de 250 000 reais ao Mosteiro de Santa Clara, pela cedência dos direitos da Alfândega Senhorial.
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Foi uma belíssima tarde de aprendizagem e convívio, que deixou o nosso IAESM mais rico em conhecimento, mais jovem, mais saudável e amigo. 
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* Algumas das fotografias, são imagens isentas de direitos de autor, da Internet

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