sexta-feira, 7 de outubro de 2022

 CONVERSAS ÀS SEGUNDAS NAS QUARTAS

“O PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS”

 Esta primeira sessão das “Conversas às Segundas nas Quartas”, neste reinício das atividades do IAESM, incidiu sobre o bonito monumento situado na margem direita do Tejo, em Belém, que representa o movimento de saída das naus portuguesas durante os séculos XV e XVI, dando forma ao sonho do Infante D. Henrique na busca do além do horizonte até aí conhecido.

Refiro-me, como é óbvio, ao “PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS”, monumento que nasceu da insatisfação de Leitão de Barros, cineasta, dramaturgo, jornalista, homem de grande atividade cultural, secretário-geral “para fora” da comissão executiva para da grande Exposição do Mundo Português, em Belém, de 23 de Junho de 1940 a 2 de Dezembro do mesmo ano, comemorativa dos 800 da Fundação da Nacionalidade e dos 300 anos da Restauração da Independência Nacional, e também da afirmação do regime do Estado Novo: durante uma reunião na casa-atelier do arquiteto Cottinelli Telmo (arquiteto-chefe da mesma) com o Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, em que o arquiteto mostrou ao ministro o plano geral da exposição na presença de Leitão Barros, que se manteve quedo e mudo, pois estava ali por acaso. Após a reunião saiu com o ministro, acompanhando-o até ao carro. Este, que estranhara o seu mutismo, interpelou-o. E, perguntando-lhe se ia para casa, convidou-o a entrar no carro, que o levaria, instigando-o a expor o seu pensamento. Ao que Leitão de Barros acedeu, dizendo que, em sua opinião, faltava no plano da exposição algo que indicasse saída, movimento para fora; “algo que fosse mais D. Henrique.”
Depois de ouvi-lo, o ministro levou-o de volta ao gabinete do arquiteto (antes que ele se deitasse) para lhe expor a sua ideia.
Botticelli barafustou, vociferou, clamou, após o que começou a riscar com um fósforo apagado sobre um mata-borrão. Leitão de Barros que ia espreitando o esboço por cima do seu ombro, a determinado momento reconheceu nele representada graficamente a sua ideia. Porém o arquiteto não estava satisfeito. Faltava-lhe ver o risco em volume e em maior escala. E o volume foi-lhe dado naquela mesma madrugada pelo escultor Leopoldo de Almeida, que Leitão de Barros foi arrancar à cama para, em barro, dar volume ao esboço de Corttinelli.
Assim, durante uma madrugada, foi concebido o Padrão do Descobrimentos. Fruto da insatisfação de Leitão de Barros perante o plano geral para a Grande Exposição do Mundo Português, conjugada com o trabalho do arquiteto Cottinelli Telmo (que fez o risco) e o do escultor Leopoldo de Almeida, que lhe deu volume.
Construído em material perecível, em 1960 “, durante as comemorações dos 500 anos da morte do infante D. Henrique foi reconstruído em betão e cantaria de pedra rosal Leiria e as esculturas em cantaria de calcário de Sintra. Em 1985 foi remodelado interiormente com um miradouro, um auditório e salas de exposições e foi inaugurado como Centro Cultural das Descobertas.
IAESM, 07/10/2021

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